Em meio às reflexões sobre educação de crianças na pandemia, lembrei de um provérbio africano que gostaria de compartilhar: “É preciso uma aldeia inteira para se educar uma criança”.
Ao tentar capturar todo o sentido contido nessa frase, acabei por pensar como estamos lidando com a questão da educação das crianças em nossos tempos.
Sim, cada época tem seus paradigmas e uma boa parte do ofício de um psicoterapeuta é também se propor a capturar a subjetividade de sua época, como nos indica Jaques Lacan.
Tenho observado que o isolamento no contexto da pandemia destacou impasses que já vinham se apresentando: muitos pais estão angustiados sobre como lidar com seus filhos e questionam o que é preciso oferecer a uma criança para que ela consiga se desenvolver psiquicamente saudável.
Já não podemos contar com uma aldeia, com sua coleção de boas práticas que poderiam nos indicar como sermos bons pais. Não é mais no seio da família que as crianças são cuidadas e o tempo que passamos com os pequenos é dividido com os trabalhadores da educação que nos ajudam nesse processo.
O lugar e a importância do psicólogo infantil
As dicas e conselhos das tradições, antes transmitidos pelas bocas das mães, tias ou avós já não são mais a bússola norteadora dos pais aflitos com seus pequenos. No lugar disso, observamos uma quantidade gigante de blogs, sites, profissionais, influenciadores que produzem conteúdo, indicando aos pais como ter sucesso em sua missão.
Convém notar que contam com uma multidão de audiência, o que me faz pensar que é um tema que precisa ser falado.
Junto a isso, existem os especialistas da infância, nas mais diversas áreas que estão sendo procurados pelos pais para prescrever as melhores práticas de cuidado, criação e educação de crianças. Pediatras, educadores, coachings, doulas, psicopedagogos, psicanalistas, psicólogos, ao lado de influencers, se somam nos mais variados portfólios de propostas e estilos de educar.
Quanto a mim, psi que sou, tenho procurado escutar os pais em suas angústias e acompanhado, curiosa que sou, toda essa oferta e demanda. Mas ainda sigo com uma boa e velha questão: de todas as propostas e modismos, o que ainda é inegociável na educação dos filhos? O que todos nós, como pais, precisamos alcançar às crianças para que elas possam estar bem constituídas?
A discussão é tão ampla quanto interessante. E acho que a aldeia segue tendo seu papel fundamental nesse processo, pois somos seres de convívio coletivo e partes de um todo muito maior.
Como o psicólogo ajuda os pais a educar melhor
O que mais tem me preocupado é o cenário onde as crianças estão entretidas com suas telas virtuais, absortas no mundo digital que ocupa sua atenção e impede, muitas vezes, de deixá-las com o olhar disponível para toda a vida que ocorre ao seu redor. Fica apenas absorvida em seu mundo virtual.
Talvez não seja uma mera coincidência que a explosão de diagnósticos de transtornos do espectro autista esteja relacionado com a integração desses dispositivos em nossa rotina. Há um outro texto em que comento a reflexão de Julieta Jerusalinsky sobre intoxicação eletrônica na infância, que discute de maneira mais profunda essa questão.
Fato é que a aldeia significa o mundo inteiro, o mundo que já estava em pleno funcionamento no momento do nascimento de cada ser. Qual a função dos pais? Acolher essa criança, garantindo sua sobrevivência física e psíquica, dar-lhe um nome, uma família de procedência e inscrevê-lo na ordem do mundo que já estava aí.
Cada família pode ter um estilo de como fazer esse cuidado e transmissão, afinal, educamos com o inconsciente. O que tenho percebido, através de muitos pais que me procuram, é que há uma insegurança sobre como exercer a função parental nas diferentes demandas que uma criança apresenta.
Antes, o papel dos pais era indicado pela cultura da comunidade em que viviam. Hoje, cada casal parental precisa educar seu filho por sua conta e risco, o que pode ser angustiante se for feito de forma solitária.
Nesse sentido, meu trabalho de orientação aos pais consiste em pensar com eles sobre aspectos do desenvolvimento infantil, refletir sobre o que acontece em cada fase psíquica da criança e ajudá-los a pensar a melhor forma de agir, a partir das crenças e convicções que cada pai e mãe tem dentro de si e também aquilo que desejam para seus filhos.
Quero destacar que não é o profissional que diz aos pais o que é melhor para seus filhos, mas sim, os ajuda a levar em conta o que acreditam ser o melhor, articulado com o conhecimento sobre o que a criança, em cada momento do desenvolvimento, necessita.
O que é psicologia infantil?
Como o próprio nome sugere, a psicologia infantil é o ramo da psicologia que se concentra no bem-estar das crianças nos níveis emocional, cognitivo e comportamental. Trata-se de estudo do comportamento infantil desde o nascimento até a adolescência, fase em que moldam a sua personalidade.
O que faz um psicólogo infantil?
O psicólogo infantil é o especialista responsável por compreender e explicar o desenvolvimento e o comportamento da criança. Para isso, utiliza terapias, tanto individuais quanto coletivas, que ajudam a diagnosticar e tratar problemas sociais, emocionais, afetivos e de aprendizagem que possam surgir na criança.
Atendimentos em psicologia infantil
Você percebe que o seu filho está precisando de ajuda? Se você acredita que um acompanhamento psicológico pode auxiliar no seu desenvolvimento, agende sua consulta, tire suas dúvidas e entenda como funciona o trabalho.